Ver Filme Junto
Samuel Brasileiro¹

Vivemos em um mundo habitado por imagens. Não falo somente das televisões, celulares ou painéis de LED. As imagens nos moldam na maneira de falar e de vestir. Assim, elas criam a nossa maneira de nos colocar no mundo. Nesse mundo de imagens é essencial que pensemos em como nos apropriamos delas e como não deixamos que sejamos apenas usados.
Nesse sentido, é importante compreender de que maneiras se pode democratizar o acesso e a criação imagética. A ideia de compartilhar um espaço para ver um filme é muito bonita. A sala de cinema tem o poder de fazer com que possamos ter nossa própria experiência, mas ao mesmo tempo nos deixa afetar pela sensibilidade de outro, um anônimo, que está sentado ao nosso lado na escuridão. As questões maiores são quem tem acesso a esses lugares e o que significa fechar-se em um ambiente construído sobre medida com condições perfeitas de temperatura e pressão para vermos um filme?
Talvez a melhor maneira de vermos um filme junto seja pensando no local em que as imagens serão exibidas. Seria a sala de cinema o lugar ideal ou seria um farol? Democratizar o cinema não é só o acesso à arte, mas à experiência e sua possibilidade de mobilização. Criemos a nossa própria estética para mudarmos a política. Deixemo-nos afetar pela pessoa ao nosso lado, mas é necessário que façamos de tudo para que o vizinho também se modifique. Vamos ver filmes juntos!

¹Samuel Brasileiro e cineasta formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Dentre seus trabalhos de destaque estão Biquíni Paraíso e O Animal Sonhado.

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Por que
Carlos Eduardo²

Em um momento em que a palavra democracia é entoada por alguns atores no jogo político e social brasileiro, é importante colocar lado a lado as diferenças desse povo. Um povo que se configura por diversidade e por ela se perpetua. Pode até soar difícil, complexo e trabalhoso debater sobre esses dois temas tão preponderantes para a nossa sociedade atual. Em segundo ponto, pode parecer que estejamos a falar das mesmas coisas, das mesmas definições, do mesmo prisma…
De fato, a diversidade é a base para a democracia. Se fôssemos todos iguais, decerto que ainda assim seríamos diferentes. Imaginemos então que, por uma dádiva, todos pensassem de forma semelhante:
Para onde iriam as discussões do Facebook? Esse termo “discussão” sequer existiria? A nossa língua teria as negações, as ponderações e as alternativas? Existiria então o questionamento? Existiria a dúvida? Sanaríamos os problemas com um simples piscar de olhos automático? Existiriam ainda os problemas? Nossa, que chato!
Um mundo sem diferenças é um mundo inimaginável, utópico, maquiado pelo pó do sonho que desmancha no despertar. O problema ao acordar é se deparar com a realidade e a intolerância que tentam de todas as formas tomar as rédeas das diferenças minoritárias e as colocar em um lugar específico, de preferência onde não seja possível ouvi-las.
E esse é o grande problema da nossa democracia. Uma palavra simples e de puro som: representatividade. Vejam vocês, em um País com maioria feminina termos apenas 10% de parlamentares mulheres no Congresso Nacional! Das políticas públicas para a comunidade LGBT então: praticamente todas barradas pela bancada conservadora que se instaurou na casa do Povo. Mas, que povo é esse? Que democracia é essa que não prevê as diversidades e as diversas formas de ser? Que democracia é essa que reduz cada vez mais o espaço de vida das comunidades indígenas e quilombolas?
É dessa falsa democracia que precisamos acordar. Ela que deveria ser nosso sonho maquiado, nossa utopia. Por que não?

²Cadu Freitas é graduando em jornalismo pela UFC e colaborador do Cine Ser Ver Luz